A frase é uma de muitas que voltaram a atenção do mundo para Severn Cullis-Suzuki, então com 12 anos, durante a Eco-92.
A menina fez um dos discursos mais categóricos daquela conferência (assista aqui), que deixou os líderes de governo mudos e virou um clássico da luta ambiental.
Mãe de Ganhlaans, 2 anos, e Tiisaan, 5 meses, Severn continua defendendo causas ligadas a ambiente e educação à frente da Fundação David Suzuki, criada por seu pai.
Ela virá ao Rio para participar de eventos paralelos à conferência, como o ciclo de palestras TedXRio+20, no Forte de Copacabana.
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Severn Cullis-Suzuki em foto atual com o seu filho mais velho, Ganhlaans, no arquipélago Queen Charlotte, no Canadá |
Reprodução |
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Severn discursa para chefes de Estado durante a Eco-92, que ocorreu vinte anos atrás; assista ao vídeo aqui |
Nesta entrevista exclusiva à Folha, ela relembra aquela sua atuação precoce, diz temer o aquecimento global e estar atenta ao que ocorre no Brasil, como a construção da usina de Belo Monte.
Folha - Como surgiu a ideia de participar da Eco-92?
Severn Cullis-Suzuki - O discurso para os líderes mundiais foi a chance perfeita de mostrar nossa ideia. Tínhamos formado o clube ECO (Environmental Children's Organization) e, em casa, fazíamos projetos locais.
Após um tempo, ouvimos sobre a Eco-92, no Rio, e decidimos ir. Mas éramos crianças, como fazer isso? Angariamos fundos com a nossa comunidade, que nos apoiou para enviar nosso grupo [ela, Vanessa Sultie, Morgan Geisler e Michelle Quigg] ao Rio com mais três adultos.
Minha mãe nos registrou como ONG e, por isso, tivemos estande no Fórum Global. Lá falávamos com todos que podíamos. E, aos poucos, fomos convidados para eventos. Até que um funcionário do Unicef nos chamou e disse que tínhamos uma hora para chegar ao Riocentro [palco dos principais discursos da Eco-92] se quiséssemos falar com os chefes de Estado.
Por que você foi a escolhida para fazer o discurso?
No banco de trás do táxi, eu e meus amigos decidimos que eu falaria. Juntamos os discursos e definimos a versão final. Aí, até chegar ao salão principal, passamos correndo pela segurança. Foi assustador! Mas eu estava empolgada, pois tínhamos um discurso forte. Por incrível que pareça, conseguimos fazer o que nos propusemos.
Como é pensar sustentabilidade hoje e há 20 anos?
No final dos anos 80, a questão ambiental tinha grande importância. Aí veio a Eco-92. Depois, perdeu força. Hoje, ao contrário de 92, a esfera política está mais conservadora, em especial após a crise financeira de 2008.
Mas a preocupação ambiental é mais real e tem força, como a mudança climática. Outra diferença é que temos uma poderosa tecnologia que permite a ativistas comunicar e disseminar informações rapidamente. Essas pessoas têm a ferramenta para ajudar e inspirar a verdadeira mudança no século 21.
Se tivesse 12 anos hoje, mudaria algo no discurso de 92? A propósito, você virá à Rio+20?
Apesar de ter sido mãe pela segunda vez e de ser difícil conciliar tudo, irei à Rio+20. Tenho feito muito pela sustentabilidade nesses 20 anos. Mas o que falei em 92 é o mais lembrado. Por quê? Todos se sensibilizam com uma criança falando a verdade para as autoridades. Não mudaria nada daquele discurso.
Como vê a política mundial sobre sustentabilidade e a atuação dos políticos do Brasil?
O nosso sistema econômico precisa refletir as realidades humanas e ecológicas. Hoje trabalha-se no sentido contrário. Medimos o progresso pelo PIB [Produto Interno Bruto], que pouco reflete nossa qualidade de vida. Precisamos mudar isso.
O Brasil tem reservas naturais importantes para o mundo, como a Amazônia. É preocupante que a usina de Belo Monte esteja a todo vapor, bem na época em que a floresta, pulmão do planeta, deveria ser mais valorizada. O mundo deve dar valor a esse capital ecológico.
O que podemos fazer pelo ambiente? O que você faz?
A sociedade e o governo devem mudar para nos ajudar a ter uma vida mais sustentável. Hoje é difícil. Nosso sistema está voltado para atos totalmente insustentáveis.
As pessoas podem fazer muito, como coleta seletiva e reciclagem. Mas digo a elas: reduzam sua pegada ecológica e sejam políticos. Se isso significa perguntar sobre algo que você esteja preocupado ou iniciar uma conversa, ótimo. Precisamos exercer nossos direitos democráticos e ter liberdade para informar, protestar e fazer com que nossas vozes sejam ouvidas.
Como imagina a vida dos seus dois filhos daqui a 20 anos?
Ah, essa é a questão! Moro numa remota comunidade [ilhas Queen Charlotte], no oeste do Canadá. Plantamos e pescamos porque tentamos ser autossustentáveis. Tento firmar com os meninos o contato com a terra e o mar. No futuro, espero que eles possam comer bons alimentos e ter a qualidade de vida de hoje. E que vivam sem medo das mudanças ambientais.
Acredito que só o amor por nossos filhos pode virar a maré. A questão do ambiente é o futuro deles. Temos de fazer a conexão entre nossa vida hoje e suas vidas no futuro. Se nós, politicamente, fizermos a conexão, mudaremos tudo. Eu tenho que acreditar nisso.
RAIO-X
NOME
Severn Cullis-Suzuki
ATUAÇÃO
Ativista, escritora e palestrante, apresenta um programa de TV local sobre água e povos indígenas e participa de uma rede independente de ONGs, a WeCanada, que monitora compromissos assumidos por políticos de seu país
NASCIMENTO
30 de novembro de 1979, em Vancouver (Canadá)
FORMAÇÃO
Graduada em ecologia e biologia evolutiva pela Universidade Yale; pós-graduada em etnobotânica pela Universidade de Victoria
FAMÍLIA
É casada e mãe de dois meninos
TRAJETÓRIA
Filha de ex-professora de Harvard, a escritora Tara Elizabeth Cullis, e do geneticista e ambientalista David Suzuki, Severn fundou aos nove anos a Environmental Children's Organization, entidade de crianças em defesa do ambiente
Aos 12, discursou na Eco-92. O vídeo ficou conhecido como "The Girls Who Silenced the World for 5 Minutes"
Em 2002, atuou na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, na África do Sul, como membro do painel de Kofi Annan
Em 2010, foi protagonista do documentário "Severn, a Voz de Nossas Crianças", de Jean-Paul Jaud
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